E aí, agora vai?

Por Abdon C. Marinho.

CONTA a lenda que em 2008 Jackson Lago, governador eleito em 2006, decidira pelo apoio ao ex-governador João Castelo para prefeito da capital. Castelo vinha de um histórico de derrotas para cargos majoritários: perdeu em 1986, para Cafeteira; perdeu em 1990, para Lobão; perdeu em 1994, a disputa para o Senado; perdeu a eleição para a prefeitura de São Luís em 1996 e 2000, para o próprio Jackson; perdeu em 2004, para Tadeu Palácio; e, perdeu novamente para o Senado em 2006.

Daria um artigo interessante descortinar as motivações que levaram o ex-governador a decidir-se pelo apoio não apenas para um adversário contra o qual disputara algumas eleições, mas alguém que sempre estivera no campo oposto ao dele – mas isso é assunto para outro momento.

Decidido o apoio, como fazer para tornar a campanha vitoriosa? Após relutâncias decidiram contratar a consultoria de um dos papas do marketing politico do Brasil: Duda Mendonça. Convidaram-no para vir ao Maranhão para conhecer o candidato e “trocar” ideias com o comando da campanha e os “patrocinadores” do projeto. 

No caminho entre o aeroporto e local da reunião o experiente marqueteiro ia indagando sobre o novo cliente, quem era, como era, etc. Tendo sido informado que o candidato ao longo da vida politica tinha uma “boa largada”,  mas que acabava perdendo no final, “não chegando”. 

Ouvindo isso, o marqueteiro disse: Ah, mas agora vai. 

Assim, no banco de um carro nascia um slogan de uma campanha vitoriosa, que levou o ex-governador, ex-senador, ex-deputado, ex-prefeito, ao seu último mandato majoritário, uma vez que em 2012, quando ia para reeleição perdeu para o então deputado federal Edivaldo Holanda Júnior, elegendo-se em 2014, deputado federal, exercendo o cargo até dezembro de 2016, quando veio a falecer.

A história é bem interessante e merecedora de registros, já que não constam dos livros, mas ficará, como já dito, para outro momento, para o presente texto, só nos servirá aquele mote de campanha, o “Agora vai”. 

As diversas mídias divulgaram e o governo festejou com fogos de artifícios a aprovação da Zona de Processamento de Exportação – ZPE a ser implementada em Bacabeira. 

Tem-se razão para festejar. 

Trata-se de um alento visto que na mesma semana, quase que simultaneamente, foram divulgados, pela ONU, os dados do desenvolvimento humano do mundo com o  nosso estado, mais uma vez, figurando na “rabeira”, com indicadores absolutamente incompatíveis com as potencialidades que possuímos. 

Na mesma linha dos números acachapantes, artigo do economista Abdalaziz Santos traz os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE, divulgada recentemente, mostrando que o Maranhão é o único estado da federação com renda média inferior a R$ 1.000,00 e que tal renda é 47% (quarenta e sete por cento) inferior a renda média do país. 

Muito embora o próprio economista ressalte não serem tais números frutos de um único governo e ser incrédulo quanto a utilização de um projeto de investimento intensivo de capital como solução para alavancar o desenvolvimento do estado mostrando de forma técnica suas razões diz não ser contra os mesmos, listando, além da ZPE, a Ferrovia Açailândia-Alcântara; o Terminal Portuário de Alcântara …

O pensamento de Aziz Santos corrobora com o que já dizia o engenheiro e político Domingos Freitas Diniz (Araioses, 1933, São Luís, 2021), que foi severo crítico dos chamados, por ele,  “enclaves econômicos” como solução para o desenvolvimento do estado. 

Diniz citava como exemplo de “enclaves econômicos”, a ALUMAR, prometida no início dos anos oitenta com a “redenção” do Maranhão ou mesmo a antiga Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, que depois de privatizada, “virou” apenas vale. 

Os números que nos são revelados ano após ano comprovam o acerto dos prognósticos de Santos e Diniz em relação ao equívoco desse modelo de desenvolvimento.

Tanto Santos como Diniz defendem como ponto de partida para o desenvolvimento do estado o investimento nas potencialidades regionais. 

Embora me filiando ao entendimento de que precisamos de um planejamento estratégico que vise o desenvolvimento das diversas regiões do estado como forma de alavancar o crescimento da nossa economia acredito que podemos “trabalhar” de forma integrada aliando os grandes projetos econômicos ao crescimento das economias dos municípios. 

Uma frase no artigo de Santos que me chamou a atenção, foi quando disse que o preço de sonhar grande e sonhar pequeno é o mesmo. 

Sempre tive o “defeito” de sonhar grande. Imagino o quanto de benefícios – se bem conduzidos –, seria transformar o Golfão Maranhense em monumental entreposto comercial com os trens  e navios trazendo e levando riquezas para todo o mundo. 

Trata-se de um sonho muito grande? Talvez, mas os chamados “tigres asiáticos” não conseguiram? Por que não conseguiríamos também?

Vimos muitos daqueles países mudarem totalmente suas realidades em duas décadas, no máximo, três décadas. 

Nações que foram destruídas na Segunda Guerra, na Guerra da Coreia ou mesmo na Guerra do Vietnã, encontraram caminhos para o desenvolvimento e, já fazem décadas, são modelos. 

Mesmo nações que não possuem territórios superiores ao da Ilha do Maranhão, se tornaram potências. 

Sempre me inquietou o baixo desenvolvimento do nosso estado. 

Os projetos que são apresentados e não saem do papel ou que são usados pelos “espertalhões” para se darem bem.

No início dos anos 2000 “inventaram” que o nosso desenvolvimento viria com o transformação de São Luís e Rosário em Pólos Têxteis – empréstimos foram feitos em nome de pessoas simples  que devem até hoje; depois veio o Refinaria de Bacabeira, que levou muita gente a “apostar” suas economias em um projeto que depois foi abandonado, levando prejuízo e quebradeira a milhares de pessoas. 

Agora é a vez da ZPE de Bacabeira. 

Falando com uma liderança política da região ela me indagou: — doutor, agora é sério? 

Quero acreditar que sim. E torço por isso. Acho que é possível conjugar os modelos de desenvolvimento, como já disse. 

Lá atrás, em 2012/2013, acreditando nesse propósito percorri todos os municípios do corredor da Estrada de Ferro Carajás para criar um consórcio intermunicipal que cobrasse da Vale uma “contrapartida” para os municípios que só ficavam com os impactos da exploração e transporte do minério de ferro. 

Conseguiu-se a contrapartida em financiamento para projetos educacionais, de saúde e geração de renda e, aliado a isso, ainda,  se garantiu os royalties do minério para esses municípios. 

Pouco tempo depois fui um dos principais entusiastas do projeto de lei do então senador Roberto Rocha, que criava a Zona de Exportação do Maranhão – ZEMA, que tinha como propósito atrair empresas para capital e seu entorno, para desenvolvimento de produtos voltados a exportação aproveitando a posição estratégica da Ilha do Maranhão em relação aos diversos países da América do Norte, Ásia ou África. 

Dizia que aquela (a causa do ZEMA) era uma causa para unir o Maranhão. O Maranhão não se uniu e o PL 316/2015, não sei o fim que levou. Virou essa ZPE?

Com todas as ressalvas que possa fazer, sou entusiasta da ZPE de Bacabeira – e de todos os demais que visem corrigir as desigualdades no estado. 

Precisamos que tal projeto seja efetivamente levado a prática, até para compensar as frustrações dos dois projetos anteriores. Em outras palavras, é preciso “arrancar a cabeça de burro” enterrada por aqui. 

A ZPE de Bacabeira poderá fomentar diversos eixos de desenvolvimento: talvez um novo porto na Baía de São José; talvez uma ponte e uma ferrovia e rodovia saindo de Bacabeira para a Baixada, para aproveitar o TPA de Alcântara; talvez novos berços no próprio Porto de Itaqui. 

Importante, ainda, do ponto de vista estratégico que o Maranhão tenha como foco a qualificação de toda população do estado, seja com o objetivo de aproveitar as potencialidades regionais, no turismo, no agronegócio, nas indústrias de transformação, no comércio; seja nos grandes empreendimentos tidos como “enclaves”. 

Como o atraso não “culpa” de um só governo, o sucesso também não será, importante é que se comece a fazer alguma coisa. 

A pergunta que precisamos fazer e para a qual precisamos obter uma resposta positiva é: E aí, agora vai?

Abdon C. Marinho é advogado. 

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